"Testemunhas podem deturpar o que vêem"

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Neste caso havia testemunhas a dizerem ter visto um bando de cinco homens que nunca existiu. Como é que isto é possível?

As testemunhas, por vezes, incorporam tudo o que ouviram ou assistiram e quanto mais baixo nível cultural têm mais efabulam. Podem deturpar o que vêem. Provavelmente, neste caso, ouviram falar de uma versão contada pela mãe da criança e incorporaram que viram o tal bando. E acreditam realmente que viram até porque estão convictas de que aquela pessoa [a mãe do bebé] não era capaz de fazer isto.

Até houve quem relacionasse o facto de o pai da criança ser primo do jovem Eucrides Varela, morto no colégio Pina Manique, para justificar a tese da vingança sobre o menino...

Pois, é possível. Curiosamente, nesse homicídio, no colégio Pina Manique, a PJ deteve por engano um suspeito porque uma testemunha identificou aquela pessoa, que, veio a verificar-se, não era o homicida.

O que lhe parece o móbil de uma mãe que conta à PJ que matou a criança e queria suicidar-se, mas depois não teve coragem para o fazer?

Perante esse cenário, coloco apenas uma pergunta: será que queria realmente suicidar-se? Por vezes são mães por acaso ou sem estarem preparadas para o ser. Não sei se é o caso, mas acontece.

Teve casos destes, em que os depoimentos das testemunhas vão por efeito contágio?

Vários. Chegámos a ter várias testemunhas numa mesma sala a jurarem que o suspeito era de cor quando afinal era louro. Quando entrei para a PJ fiquei com o caso de um polícia que abordou um casal que estava num carro descapotável. O carro arrancou com o polícia agarrado ao veículo. O agente foi largado na rotunda do aeroporto de Lisboa e atropelado por um automóvel que vinha atrás. Na altura havia dezenas de testemunhas que viram o que aconteceu, mas a cor do carro suspeito variava do amarelo ao preto profundo.

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